terça-feira, 15 de maio de 2018

Desabafos de uma Assistente Técnica revoltada


"Gostaria de poder usar uma orelha vossa, gostaria de poder desabafar e de não estar constantemente a recorrer a ansiolíticos.

Entrei para uma escola sob o pretexto de esta passar a ser sede de agrupamento, e assim necessitar de mais pessoal administrativo, claro está, em maio de 2004, assinei um contrato a termo certo embora essa necessidade fosse para o todo o tempo que se mantivesse como sede de agrupamento (que ainda é).

Durante o período pré-SIADAP recebi por diversas vezes o antigo "excelente" e todas as críticas eram positivas ou de ajuda à melhoria da minha performance. Tudo o que aprendi tentei melhorar (quando aqui cheguei poucas eram as colegas que utilizavam computadores para o que quer que fosse, emails? isso é ficção científica!... adiante..).

Em 2006 mudámos de CSAE, mudámos muita coisa, foi implementado um "sistema" de gestão de processos como nunca vi, toda a gente fazia de tudo ao mesmo tempo e sem um manual de procedimentos. Claro está que cada cabeça, sua sentença e eu, pessoalmente, não me revia nesta metodologia. Criei os meus próprios manuais de procedimentos conforme directrizes e despachos tanto da Direção como da CSAE e apresentei-os superiormente. 



O que fiz foi criar um alvo nas minhas costas e nunca mais ter tido avaliações acima do adequado sob a desculpa que a Directora quer que os relevantes sejam atribuídos de forma rotativa por todos. Desde 2007 que nunca tive o relevante e sempre que tinha uma pontuação alta era-me dito que ainda não tinha chegado a minha vez.

Em 2010 muitas colegas saíram desta escola, umas por concurso, outras por aposentação, e foi-me atribuído por ordem verbal que eu iria começar a fazer o serviço de alunos e de ação social escolar. Durante um ano e meio tive essas duas áreas e nunca nada falhou, trabalhei muito, vesti a camisola, as calças e enfiei um chapéu até ao queixo. Aguentei até virem novas colegas e poder haver nova distribuição de serviço.

Foi-me retirado a área de alunos e desde 2013 que tenho a ASE, somente com uma formação do software e uma sessão de esclarecimentos sobre contabilidade analítica. Diariamente digo que não tenho segurança no serviço que presto pois não tenho as bases necessárias para tal.

Agora sobre o descongelamento e em conclusão, assinei contrato sem termo em 2010, reúno 6 pontos, não progrido e terei de aguardar mais 5 anos se esta lógica de rotatividade se mantiver.

Tenho colegas, que vindas de outras escolas e até mesmo com contratos assinados um ano após a assinatura do meu, reúnem os pontos necessários para progredir.

Colegas a quem eu ensinei o serviço, a quem eu ainda tiro dúvidas e faço passagem de conhecimento com todo o gosto e que me orgulha, em parte, saber que obtiveram notas superiores às minhas, progredindo já este passado janeiro por terem obtido as avaliações que mereciam.

Tenho uma outra colega que na sua escola anterior obteve avaliações de insuficiente e com isso obtém exactamente o mesmo 1 ponto que eu.

Sinto-me angustiada, enojada com esta injustiça, completamente arrasada por me sentir impotente perante esta falta de ética. 

Nada do que está a ser feito é ilegal mas não significa que seja correcto. É, na verdade, mesquinho e nojento em todo o sentido da palavra.

Tenho quase 15 anos de casa, sou uma das pessoas a quem toda a gente recorre e não valho mais que um insuficiente.

...

Obrigada pela orelha, obrigada pelo projecto, obrigada por me fazerem querer lutar.

...

Continuem com o excelente trabalho.


NOTA:

Muito obrigada colega ... a resposta irá seguir por email às questões aqui ocultas :)

Aos leitores, que pretenderem, enviarem relatos de cenários semelhantes, recomendo vivamente! A vossa identidade está salvaguardada!




9 comentários:

  1. Parece que estava a ler a minha própria história. As avaliações por rotatividade que nunca chegam, as mesmas áreas e também sem a tal formação, o ensinar colegas que agora estão a ganhar mais que eu, e a sentir a mesma impotência face a tudo isto...

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  2. Também pareceu estar a ler a minha história...é triste e desmotivante

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  3. Concordo com as suas palavras. Tenho quase a certeza de que alguns milhares de ass. técnicos sentem o mesmo. Não consigo compreender como é que alguns não levantam a voz e o rabo do assento para se unirem quando alguns lutam para melhorar essa situação. toino zei

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  4. A questão da rotatividade na atribuição de notas, não tem fundamento algum e até desvirtua a mesma. Sugiro que contacte o seu sindicato, para que medidas sejam tomadas, nomeadamente a nível da IGEC.

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  5. A questão dos pontos não contarem durante o tempo, de contratos precários, ainda que legal, foi uma azelhice negocial sindical, que não aconteceu com os sindicatos dos professores.

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  6. Como eu a compreendo colega, com 18 anos de serviço, estou a fazer o que mais ninguém quer, colegas com poucos anos de serviço estão com cargos atribuídos, uma vergonha...

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  7. A triste realidade da maioria, ou seja daqueles que trabalham com método e que tinham no passado brio. Sim pertence a um passado alguém dúvida? Infelizmente eu sou prova disso. Pensava que andava tudo com os olhos vedados mas afinal não. Muito obrigada colega pela partilha pública.

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  8. A desmotivação e muita estou com uma história e necessário dar conhecer tudo isto

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  9. Infelizmente a triste realidade da Função Pública é mesmo esta...não é tanto a incompetência que irrita mas sim a falta de reconhecimento das pessoas competentes e que, sem dúvida, ainda vão mantendo o barco à tona mas que no final das contas levam uma pancadinha nas costas a dizer que "eu até gostaria de lhe dar um relevante mas não chega para todos por isso vamos rodar"...RODAR!? Mas o meu desempenho não escolhe ciclos para rodar entre o "competente" e o "incompetente", entre o "adequado" ou o "relevante" !! Como profissional que sou mantenho o rigor independentemente de ciclos e sou coerente mantendo-me COMPETENTE, SEMPRE...
    Mas neste descongelamento, no Regime Geral da Função Pública, temos ainda pior...são pedidos, indiscriminadamente, 10 pontos a todos para ajustar à posição seguinte (note-se que a maior parte estaria numa posição virtual) sendo certo que este ajustamento deveria ser feito proporcionalmente à proximidade, ou não, da posição virtual à próxima posição...no caso da colega que expôs aqui o caso dela, quem sabe os 5 pontos, dada a distância à próxima posição, não davam para fazer esse ajuste?

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Agradeço o seu contributo com interesse público e de forma séria.

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